quarta-feira, 16 de junho de 2021

Das palavras

Eu estava lendo Clarice e ela me disse ter uma alma prolixa e usar poucas palavras. Em outro momento, sentencia: “Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.”

Bem, sendo assim, concluo que a mim resta também escrever. Palavras escritas podem ser mais doces que as faladas. E me desafio nessa noite fria. Não para que as respostas cheguem dizendo basta, mas para que as perguntas antes caladas sejam ditas para existir. E tragam talvez alguma razão para a busca incessante. E quem sabe, o que virá será forjado de sentenças de boas reflexões.

Não quero jogar responsabilidades naquilo que ainda desconheço e nem apostar que os passos ao futuro trarão conforto ao que vivi no passado. Mas sei que o que vejo na paisagem do caminho são bordas infinitas de possíveis viveres.

Interessante descobrir que ainda não sabemos. Ou ainda, que sabemos o que ainda não se revelou. Mas que se mexe por dentro, muda a mente, acelera o sangue e conduz sensações estranhas de viver; que se confundem na fronteira do saber e do sentir. E que, nessa trajetória de tentar se libertar, lutam entre si  e não se desfazem de uma estranha proteção de serem o que não precisam ser.

Suponho certezas ou dúvidas. De qualquer maneira, algo fora do lugar parece estar. Um sentir fora do tempo.  Fora de nós. À parte do que imaginamos ser. Ou além de nós. Não que haja encaixe perfeito, isso pode habitar no mais longínquo e desejável  sentido da vida, mas nas noites e dias que enfrentamos, confirmamos diariamente que nosso caminhar não é ciência exata.

Difícil de entender essa estranha mania de querer entender.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Janela do Mundo

Pode ser uma pequena fresta
Mas se a luz entra
já valeu a pena

Dizem por aí que a partir dela também se veem estrelas.
Um céu estrelado pode ser  o mais alto grau de compartilhamento humano.


sábado, 6 de junho de 2020

Enquanto o azul não chega

Não sei se é medo ou autopreservação.
Uma disciplina imposta que te devolve paz.
Uma liberdade que você recusa.
Perdas que não lhe parecem importantes
e uma constante busca por ganhos que podem nem existir.
Estranho modo de viver.
Estrangeiro sentimento que chega sem você entender que língua ele fala.



sábado, 8 de fevereiro de 2020

Andei por aí

Fui em busca de uma certeza viva que doía
E encontrei uma corrente de dúvidas que dormia.
Cheguei sem regras ou garantias
Cheia de receio.

E descobri que falar dói mais que sentir.
Uma dor nunca é esquecida,
Uma falta nunca é leve,
uma culpa, muito menos.

Minhas palavras quase sempre foram do papel
E agora coloco-as ao meu ouvido.

As lembranças que pensei não serem minhas
se sobrepuseram ao que guardava como especial.

Minha certezas que tanto presei
Se foram como água de chuva
E ganhei dúvidas que me jogam numa nuvem de tempestade.
Trovões e lágrimas.

Onde vou parar não sei.
Mas o caminho até aqui deu coragem pra olhar o que o vento foi levando
E trouxe desejos de descobertas de onde posso ir

Dilema

O que posso fazer pra me livrar?
Dias sim, dias não.
A vida pode ser um não de tantos porquês
Ou quem sabe um sim depois de inesperado talvez

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A pílula da retomada

A volta

Fiz tantas voltas pra chegar aqui.

E talvez tenha chegado em mais um ponto de partida

Esqueci de mim enquanto me preocupava com o que me fazia caminhar.

Um pouco de mim, e muito do que não sou.

Sou das palavras. As escritas.

As faladas me metem medo. Receio de magoar.

Uma breve escolha pra falar o que não sai da boca

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Uma chance pra mim

Quantas vezes temos que nos perder para nos achar?
Quantas palavras temos que ouvir para nos escutar?
Quantas voltas temos que dar para nos reencontrar?
Quantas vidas temos que viver para renascer?
Se tenho um minuto de consciência,
Uma oração,
Uma volta a mais no relógio,
Um sol quente pra aquecer a alma,
Tenho muito.
E tão pouco para o que a inquietude ainda clama.
Mas tenho muito.
Pronta pra luta.
Que é de todo dia, de todo mundo.
Que pode machucar, mas que é digna;
Que fortalece, que revigora.
Que torna fácil desatar o nó apertado da garganta, do peito.
Que deixa tranquilo um coração revolto.
Que deixa mais leve o corpo que leva a alma, às vezes um pouco pesada mas sem culpa alguma.


domingo, 6 de agosto de 2017

O que ficou lá

Já vivi dias assim. De intensa saudade pelo que era e de tamanha força em querer seguir o que sou. De velhas lembranças que ainda desejo e de dolorosos quereres que não vi chegar. De êxitos que não significam glórias, somente a verdade que não esqueci. Mas deixe lá o que segue atrás de mim. Dias que não chegam mais. Que não me alcançam e não me desafiam. E assim não podem me ferir. O que ainda vem traz sabor. Doce e maduro. Com frescor de manhãs ensolaradas e com a energia do vento forte no rosto. Da simplicidade em estar de pé, de caminhar e de sorrir. O ímpeto de seguir descobre novos olhares, um jeito novo de ver o que não se enxergava. Uma calma desacelera vida sem pressa, mas ainda cheia de vontade. Caminhos de pedras lisas meio a grama que cresce. Sombras de árvores que surgem após a curva. E então continuo a viver dias assim. Quem sou eu para parar?

domingo, 4 de setembro de 2016

Que amor é Esse?

Que amor é esse? Maduro que ainda cresce. Leve que ainda flutua. Colorido que ainda se fantasia. Companheiro que ainda caminha. Solto que ainda me gruda. Que amor é esse? Que canta enquanto durmo. Que sorri na mais doce lágrima. Que fortalece com olhos serenos. Que me reconhece de longe E que me afaga de perto. SIm, é esse amor. Que não obedece a lógica de ver e sentir. Que não acaba quando a voz se cala. Que não vê fim no que começou. Que extrapola fotografias em cima da mesa. Que sussurra lembranças infantis. E que amadurece em sonhos que peço a Deus para ter.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Passo rapidamente para deixar registrado que hoje percebi que não crio nada há mais de um ano. Que vida tola por ser essa minha que não me resta um tempo dedicado a uma das coisas que mais gosto de fazer? Que tempo é esse que existe só para ficarmos escravos de um cotidiano que nos engole? Bastariam 5 minutos para escrever algo que me satisfaça e que me deixe mais feliz. É o que o que fiz agora. Deixei de lado o stress do trabalho, a pressão do tempo, as pessoas me perguntando"-Tá ocupada?". Não, não estou. Estou livre para quem quer ser livre. Livre do obrigatório, do socialmente correto, do inevitável. Vou quebrar meu tempo e fazer cacos. E usar cada pedacinho a meu favor.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Perfume de jasmim


Depois que colhi flores no jardim, descobri que precisava de plantar novas.
Só assim conseguiria manter minha vida com perfume de jasmim.

E só depois que cresci, descobri que amor que nasce junto pode ser colhido
E não é preciso replantá-lo, pois os perfumes surgem em nossa memória
E fazem renascer flores onde jamais poderíamos imaginar.

domingo, 6 de abril de 2014

Colecionáveis

Nunca fui de colecionar coisas. Minha disciplina, ou melhor, a falta dela nunca me permitiu ser tão rígida ou apaixonada por objetos que superassem a minha vontade de liberdade e de certo modo de irresponsabilidade.

Mas com o passar do tempo, a vida tem me alertado para o fato de que colecionei sim. Pessoas amigas, momentos e , claro, lembranças boas que guardo dentro de mim. Que às vezes adormecidas retomam a minha mente como um rio quente e me enchem de motivos de alegria. Que, às vezes latentes, voltam pulsantes como coração apaixonado; as vezes propositalmente esquecidas retomam o caminho da consciência e mostram que o que passou não foi ruim, era só a vida seguindo seu curso.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Bastaria um dia

Por esperança ou por alívio, encaramos o fim de ano como um tempo de recomeçar. Acabamos por fazer um balanço de tudo que vivemos de um verão a outro e nos imputamos uma conclusão. Descobrimos que demoramos 365 dias para não fazer o que propomos ou que tivemos coragem de fazê-lo; que esquecemos de dizer coisas que ficaram presas no último inverno; ou que não eliminamos o que nos incomoda - em nós e nos outros. Por outro lado, nos lembramos das conquistas, de um dia feliz, de uma companhia agradável, de uma descoberta, de um saboroso almoço, de risos e beijos. E assim, na balança da vida, etiquetamos o ano que se vai e o colocamos no baú de nossas lembranças como um ano bom ou um ano ruim.

Mas espere aí. Um ano é muita coisa. É tanto tempo que dá para sermos anjos e demônios, santos e pecadores, sonhadores e pés no chão, doces e amargos. Dá pra perdoar, dá pra esquecer, dá pra curar, dá pra celebrar, dá pra esperar, dá pra ganhar, dá pra perder. Um ano é tão longo que nem precisaria ser tanto. Pra muitos, um outono bastaria, ou talvez um setembro apenas. Em um dia - poderia apostar - que muita vida pode mudar. Sim, para muitos, bastaria um dia.

E se ao invés de um ano, tivéssemos apenas um dia para refazer nossa trajetória, consertar, corrigir, comemorar, prometer e realizar? Seríamos ágeis o bastante para aproveitá-lo ou deixaríamos passá-lo em branco?  Quando colocamos nossos pés no chão de uma manhã qualquer e damos nossos primeiros passos em direção contrária ao de nossa cama macia, alguma coisa nos move. Às vezes, ou quase sempre, não temos consciência desse motor. Uns chamam de sobrevivência, outros de esperança. Pode ser controle, pode ser energia, pode ser responsabilidade. Pode ser tudo isso junto.

O mais interessante disso tudo é que nossa vida é construída de dias e o passar dos anos passa a ser consequência, acúmulo de viver, eu diria; o que aconteceu conosco desde o último janeiro só tem mesmo importância se o que você fez ontem é coerente com suas expectativas daqui pra frente. Pois o que se constrói é o adiante, o que se vai viver.

Assim, o ano que estamos deixando em nossas vidas não é fruto que dá em árvore na beira da estrada, que temos opção de colher ou não. É trilha aberta por nós, pelas escolhas. Não só as de Deus, nem tão somente as nossas.  Mas é inerente a nós. Está tatuado, que não sai, que faz parte. Que não se descarta, que não tem jeito de não nos pertencer.

E não bastaria um dia para dizer eu te amo? Ou ainda quantos "eu te amo" você conseguiria dizer em um dia? Quanta saudade pode se acumular em um dia? Quantas gentilezas somos capazes de oferecer? Quanto trabalho pode nos realizar? Quantos sonhos podem ser construídos numa volta pra casa? Quantos quilômetros podemos correr ou atravessar numa manhã? Quantas malas podemos fazer ou desfazer? Quantas vezes podemos olhar o espelho? Quantas vezes podemos nos perfumar numa noite? Quantos copos d'água podemos beber? Quantas recusas podemos dar? Quantos livros podemos ler ou quantos traços podemos desenhar? Quantas pessoas podemos encontrar, reencontrar ou mesmo conhecer? Se "muitos" é a resposta para a maioria dessas perguntas, adianto a próxima: o que você realizará tendo um ano para tanto?

Uma certa noção de infinitude toma conta da minha mente. E aí começo a me lembrar dos dias que passei com mais raiva e menos amor. Lamentando mais e planejando menos. Comendo mais e exercitando menos. Muito celular e computador e olho no olho menos, dedicação de menos. Preocupação sobrando e prazer de menos. Falando mais e ouvindo menos. Dias passados em branco, acumulados no baú esquecido do tempo desperdiçado. Que não volta, mas que se recupera.

E bastaria um dia para mudar. E mais um dia, e mais um. E um outro. Um verão, um outono, um inverno e uma primavera. Sim, um ano feito de dias com manhãs corajosas, de gentilezas compartilhadas, de almoços em boas companhias, de tardes aquecidas com cheiro de café com torradas, de noites de amor, de esperanças renovadas, de saudades guardadas pela distância ou pela ausência, de dias cheios de sol ou recebidos com chuva, recheados de trabalho, plenos de vida. Dias que virão, queira você ou não. Dias de dificuldades, de superação, de mansidão. Dias de luta, de dor e de alívio. De força, de conquista, de sucesso. Dias de vida. E não bastaria um dia só para você agradecer. E não valeria a pena se não fosse assim. Felizes dias em 2014.


domingo, 29 de setembro de 2013

Setembro

Setembro passou.
Flores vão chegar, o sol vai brilhar mais intensamente 
E eu nem fiz ainda um bolo de chocolate.

Um dia igual ao outro anuncia que a vida passa. 
E nem reclamo, pois pra mim isso também é felicidade.

Um domingo de céu branco pode ser agradável.
Casa, casa e casa.
Dormir, acordar, preparar uma refeição.
Inverter as ordens das coisas.
E no final, esperar pelo outro dia com uma vontade danada de que as coisas sejam do jeito que você espera.

O que pode ser a felicidade se não esperar por ela?

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Desconectante

Por mais que a vontade lute contra a realidade nossos sonhos insistem em se apresentar distantes.
E por mais que eu tente entender o que se passa, mas difícil se torna me compreender.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

#diferente

O que é ser diferente? Receio que seja o desconhecido ou o muito distante. Não, nada disso. Nem tão pouco é o que nos faz temer.
Talvez diferente seja o que mais admiramos: ou porque não temos ou porque desejamos muito. Diferente é se propor a seguir um outro caminho. Ou até mesmo a seguir o mesmo, mas de outra maneira. 
Posso ser diferente, sem perder a essência. Ou ainda insistindo nela é que seremos.
Fora do comum é algo grandioso, às vezes diferente é ser rejeitado. Mas ora não poderiam eles ser sinônimos? Pois afinal não seguir padrões é estar longe do comum, diferente de algo. Ou não seria?
Diferente é achar atalhos, encontrar o inusitado e tratá-lo com respeito. É buscar uma volta num caminho sem rumo ou até mesmo encontrar o rumo no caminho da volta. 
Diferente é ser imprevisível, quando não esperam que sejamos. É bancar a loucura própria e não apontar a loucura do outro, é descobrir que criar maneiras pode ser simplesmente aceitar a mania alheia.
Diferente é destacar-se, ser lembrado. Não por um protesto ou por um figura estranha. É trocar o inesperado pelo amado, o suposto pelo efetivo.
Diferente não é ser estranho. Muito pelo contrário. O estranho não importa, não traz pra dentro de si. O diferente olha por dentro, revela o oculto e abre janelas.
Diferente não é estar à margem. É agregador, é agir por fora para unir que está dentro. É resultado. Sim, diferente é chegar ao final e encontrar algo que tenha valido muito a pena.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Pincéis de dedo

Colori minha vida com pincéis de dedo.
Toquei no que valia a pena 
e mudei o rumo com a palma da minha mão.
Abracei, acarinhei e amei imprimindo traços, rastros.
Uni as pontas mais extremas do meu corpo.
Orei, perdoei, confessei.
Apaguei marcas que eles deixaram.
Li ondas azuis que foram deixadas por eles como herança.
Desejei figuras que nunca conseguiram criar.
Sim, colori minha vida com pincéis de dedo.
Cores de vida.
Desenhos de desejo.
Sombras e rascunhos sem moldura.


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Longe. Difícil definir tal distância.
De dentro insiste em existir.
Diante de mim cria asas.
De fora se acalma.

Longe. Difícil definir tal distância.
De dentro insiste em existir.
Diante de mim cria asas.
De fora se acalma.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Fico

Fico aqui pensando no acaso.
De tanto pensar, fico.
Não passo adiante, não olho pra frente.
Fico.
Sem pé, nem cabeça.
Sem freio, sem chão.
Fico.
à toa, a deriva, perdida.
Fico.
Pés plantados no chão, a sonhar com a alma
E o coração acelerado aqui na terra.
Fico.
Passa nuvem, passa dia, chega noite.
Ainda estou aqui.
Fico.
Espera sofrida.
Fico, fico, fico.
Até quando precisar
Ou até mesmo quando não precisar